Mulheres no comando da logística: entrevista com Suelen Bellinassi, Gerente de Logística da Jequiti

Quando falamos em Gestão de Logística, a maioria das pessoas tende a imaginar um homem no cargo. Poucos pensariam em uma mulher comandando operadores do armazém, gerenciando o estoque, corrigindo as falhas e tomando decisões importantes que impactam a empresa como um todo. Felizmente, essa preconcepção de que apenas homens podem ocupar posições desse tipo tem caído por terra. A própria realidade mostra o contrário. As mulheres têm conquistado cada vez mais cargos de destaque na logística, e não apenas na chefia, como também nas áreas operacionais. Um setor que antes era majoritariamente masculino agora começa a dar passos largos para a diversidade.

 

Assim como em outras áreas, a diversidade traz ganhos concretos para as empresas. Segundo um estudo desenvolvido pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), “Mulheres na gestão empresarial: argumentos para uma mudança”, realizado com 13 mil pessoas de 70 países, quase 3 entre 4 empresas que promoveram a diversidade de gênero em cargos de chefia obtiveram aumento entre 5% a 20% nos lucros.

 

E a promoção da diversidade trouxe mais benefícios para os negócios: 57% das empresas entrevistadas afirmaram que a diversidade ajudou a atrair e reter talentos; 54% apontam evolução na criatividade, inovação e abertura, além de terem alcançado melhora em sua reputação; e para 37% das companhias, a diversidade permitiu avaliar de forma mais eficaz a opinião de seus clientes.

 

Na logística não é diferente. Na última edição da Transport Logistic, a maior feira de logística do mundo, realizada na Alemanha, um dos temas abordados foi o avanço da mulher na logística. De acordo com a pesquisa realizada pela Bundesvereinigung Logistik (BVL), apresentada no evento, “as características e habilidades femininas como flexibilidade, orientação para o serviço, implementação consistente de metas, trabalho em equipe, eficiência, tomada de decisão e gerenciamento de conflitos são ideais para trabalhar estrategicamente e em organizações líderes”.

 

Quem pode falar sobre o assunto com propriedade é Suelen Bellinassi, Gerente de Logística da Jequiti. Suelen conversou conosco sobre sua trajetória profissional, desafios e como ela vê o setor hoje em relação à diversidade. Confira a entrevista a seguir:

 

 

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Suelen Bellinassi, Gerente de Logística da Jequiti

Delage: Quando e como surgiu o seu interesse pela logística? Como foi a sua trajetória profissional até o cargo que ocupa hoje?

 

Suelen: Minha trajetória profissional foi sempre em Operações, iniciando por Processos de Garantia e Controle da Qualidade. Fui aprofundando o conhecimento em Boas Práticas de Distribuição e me apaixonando pela logística. Na Qualidade, iniciei como analista e realizava as auditorias de processo. Já na Diretoria de Operações, assumi a coordenação dessa área e depois a gerência. Foi quando me aproximei ainda mais das demais áreas do supply chain e fui convidada para assumir o Centro de Distribuição, tanto a logística inbound quanto outbound.

 

 

Delage: Ao longo de sua carreira, você enfrentou dificuldades ou preconceitos por ser uma mulher atuando em um meio majoritariamente masculino? Como buscou superá-los?

Suelen: Falando como um contexto geral, a desigualdade de gênero infelizmente ainda existe e temas como equiparação salarial, representatividade feminina no quadro, receio de a maternidade prejudicar a carreira, assédio no ambiente de trabalho, entre outros, precisam ser veementemente discutidos dentro e fora das empresas.

Comigo não foi diferente. Enfrentei comentários machistas, como “você é da logística, parece de marketing” ou “estou surpreso, esperava outra pessoa”, assim como olhares duvidosos que quase externalizam “o que uma mulher faz aqui?”. Como superar? A maturidade e inteligência emocional com o passar dos anos aprimoraram o pulso firme e/ou jogo de cintura para lidar com cada tipo de situação!

 

 

Delage: Como é, hoje, a sua relação com os homens que lidera e os colegas de trabalho?

Suelen: Posso afirmar que o fato de alguém usar calças, saia ou salto alto não traz qualquer intimidação. Acima de qualquer aspecto ou causa de gênero, para mim vem o profissionalismo, a postura, educação e o respeito. Atuo em uma empresa onde o quadro geral é composto em sua maioria por mulheres! Mas o cenário muda quando olhamos apenas para as áreas operacionais: na logística os homens são a maior parte do time e nossa relação é de respeito e reciprocidade.

Quando assumi a área, houve sim um certo estranhamento de alguns colaboradores e, na ocasião, lembro bem que reuni os líderes e coordenadores e frisei “sim, existe uma mulher à frente da operação e as pessoas devem aprender que não vou mudar o jeito ou a forma de vestir por estar no meio de homens; prevalecerá sobretudo o respeito”.

 

 

Delage: Você tem alguma referência de liderança feminina na qual se espelha?

 

Suelen: Logo na minha primeira experiência profissional, tive a felicidade de trabalhar com uma líder inspiradora e que, em alguns anos de convivência, pude absorver muitos dos valores que prezo hoje em um ambiente de trabalho. A Maria Mergulhão (Neli), me fez ver da melhor forma que uma mulher pode liderar com competência, ser descontraída, arrumada e bonita, transitar e se destacar em um meio masculino, quebrando barreiras.

Tenho admiração também pelas mulheres que operam equipamentos pesados na logística e posso citar uma delas, a Viviane Lucena, motorista em uma de nossas transportadoras parceiras. Sempre vaidosa, maquiada e manobrando com maestria uma carreta de mais de 20 metros todo equipado com acessórios cor de rosa!

 

 

Delage: Quais características da profissional mulher você vê como de grande contribuição para a logística?

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Suelen e a equipe feminina de logística da Jequiti

Suelen: As mulheres têm inúmeras competências e habilidades que agregam, e vale destacar o que tange a inteligência emocional – e não é “puxar sardinha” para o nosso lado, é ciência. Especialistas em comportamento organizacional e psicólogos como Richard Boyatzis e Daniel Goleman divulgaram pesquisas comprovando que mulheres superam os homens em algumas competências emocionais. São características como autoconhecimento, liderança, influência, gestão de conflitos, empatia, atenção aos detalhes e resiliência que se destacam em resultados positivos e vêm conquistando cada vez mais espaço no mercado.

 

 

Delage: O que você diria para outras mulheres que têm o sonho de seguir na área da logística?

Suelen: A questão de gênero definitivamente não é impeditiva para atuar em qualquer segmento. Foque no que temos de bom e de especial, não menospreze seu potencial e mergulhe de cabeça nos seus objetivos.

 

 

Delage: O que você acha que ainda precisa mudar para facilitar o ingresso e a atuação de mulheres na logística ou em outros setores majoritariamente masculinos? Onde você acha que precisaria começar essa mudança? A Jequiti já faz algo nesse sentido?

 

Suelen: Estar aberto à mudança é sempre um bom início para dissolver qualquer objeto de desigualdade e paradigmas, e na logística não seria diferente.

A boa notícia é que a mudança já começou. Empresas e marcas estão cada vez mais caminhando e aderindo à neutralidade de gênero e, aos poucos, os rótulos vão caindo por terra. Existem plataformas de recrutamento e seleção que incentivam e dão visibilidade à causa. Mas é importante destacar que parte importante da mudança começa em nós, ou seja, é fundamental que as profissionais estejam igualmente engajadas na causa e lutando por essa mudança. Posso citar como exemplo um grupo ao qual faço parte, o “Mulheres no E-commerce”, que reúne profissionais de diversos segmentos fomentando o networking, o compartilhamento de conteúdo e, sobretudo, encorajando as mulheres em suas carreiras.

Na logística da Jequiti nós temos áreas como picking e conferência em que priorizamos a atuação de mulheres. Hoje a representatividade já passa de 70%!

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Delage: Você tem boas perspectivas em relação a essa mudança dentro da logística?

Suelen: É nítida a maior participação das mulheres nesse mercado e também o interesse em cursos técnicos, faculdade e especialização.

 

 

Delage: A maior parte das vendas da Jequiti é resultado do trabalho das consultoras. Há uma preocupação da empresa em ajudá-las a crescerem em seus negócios? Como a logística participa disso?

Suelen: Isso é mais do que uma preocupação para a empresa; “oferecer as melhores oportunidades de negócio, realizar sonhos e contribuir com a autoestima das pessoas” é parte da missão da Jequiti. Na logística, nós incentivamos os colaboradores a olhar para o processo e para as caixas de pedido tendo em mente que temos participação direta na satisfação dos consultores (sim, temos homens consultores de cosméticos!) e geração de receita para essas pessoas, considerando que oferecemos não apenas cosméticos, mas alternativa de renda para centenas de milhares de famílias em todo o país.