A administração do estoque pode ser uma grande dor de cabeça aos gestores. Definir as posições para cada produto, saber o momento certo de reabastecer, buscar reduzir as movimentações são alguns quesitos que devem ser considerados. E não apenas isso. É preciso ter uma excelente gestão do fluxo de caixa, empregando o menor capital possível em estoque (afinal, os custos de armazenagem são altos), e, ao mesmo tempo, mantendo a quantidade ideal armazenada para oferecer um alto nível de serviço aos clientes.
A conta é simples: muito estoque pode fazer com que o capital fique parado, montante este que poderia ser investido em destinações mais lucrativas. E pouco estoque pode provocar até mesmo a perda de uma venda, pois se o produto não está disponível no momento em que o cliente demandou (stockout) é bem provável que ele abandone a sua empresa e migre para o concorrente. É por isso que a palavra de ordem é equilíbrio.
Como alcançar esse equilíbrio? Contando com as ferramentas certas.
Uma delas e que auxilia muito é a Curva ABC ou Teorema de Pareto. Sua origem vem da teoria do economista italiano Vilfredo Pareto, que, através de um estudo, constatou que 80% das riquezas estavam concentradas nas mãos de apenas 20% da população. Daí por diante, outros estudos foram realizados seguindo a proporção dos 80/20 para análise de causa e consequência.
Na logística, a Curva ABC é empregada para classificar e agrupar os produtos armazenados de acordo com a sua importância para o desempenho do negócio. Os itens são divididos em:
• Classe A: cerca de 20% dos itens que correspondem a aproximadamente a 80% do faturamento;
• Classe B: cerca de 30% dos itens que correspondem a aproximadamente a 15% do faturamento;
• Classe C: cerca de 50% dos itens que correspondem a aproximadamente a 5% do faturamento.
Para uma Análise ABC eficaz, é necessário levar em consideração tanto o custo do item quanto o seu giro (velocidade em que é vendido). No que tange ao giro, você pode avaliar os 12 meses anteriores de vendas e determinar a média de vendas por mês para cada item. Também é válido considerar as previsões de vendas futuras, as quais devem conter os picos de venda em períodos especiais (ex: férias, Black Friday, Natal, mudanças de estação, etc.) e campanhas de marketing, pois pode acontecer de um item pouco demandado seja mais vendido nesses períodos.
É importante fazer a ressalva de que os números citados acima podem variar de negócio para negócio, portanto, não se trata de um padrão fixo, mas de uma referência percentual para nortear o trabalho do gestor. Vale acrescentar também que a Curva ABC pode ser usada para classificar uma ampla gama de itens de estoque, sejam matérias-primas, componentes, peças, produtos finais fabricados e produtos inacabados.
Quais são as políticas que regem a Curva ABC de estoque?
Depois que você classificou os produtos do seu estoque em Classe A, B ou C, é hora de dar o tratamento ideal para cada um deles, conforme detalhado a seguir:
Itens da Classe A:
– Devem receber um rígido controle de estoque
– Devem ser alocados em áreas altamente seguras e privilegiadas (posições mais baixas, que permitem um acesso fácil e rápido, sem uso de maquinário, por exemplo)
– Devem ser inventariados com frequência
– Devem ser mantidos como itens prioritários, com um grande esforço para evitar a sua indisponibilidade (stockout).
Itens da Classe B:
– Não exigem um rígido controle, mas também precisam de uma revisão regular. Por estarem entre as Classes A e C, caso haja uma variação das demandas (pra mais ou pra menos), poderão migrar de categoria.
Itens da Classe C:
– Não precisam ser tão rigorosamente controlados quanto os dois primeiros grupos e provavelmente não serão inventariados com a mesma frequência.
Benefícios da Análise ABC
A otimização do estoque é crucial para manter os custos da cadeia de suprimentos sob controle. Se não há um controle ideal, a empresa pode estar gastando capital com a compra de produtos com pouca saída e seus custos de armazenagem associados. Por outro lado, se algum item fica em falta no armazém, há prejuízos relacionados à perda de uma venda.
Dessa forma, podemos dizer que o objetivo da Análise ABC é garantir a saúde financeira da operação. Com essa estratégia de classificação dos produtos, você passa a concentrar sua atenção nos poucos itens A críticos, em vez de nos muitos itens C triviais. A partir disso, terá condições de direcionar o seu capital de giro para onde há o maior retorno sobre o investimento. E mais: com a Análise ABC, o você também poderá desenvolver estratégias para dar saída aos itens C, seja através de campanhas de marketing ou formação de Kits.
Além desse benefício principal, podemos citar ainda outros ganhos, tais como:
Gerenciamento de vida útil
Para evitar perdas dentro do CD por expiração da data de validade, é preciso determinar uma data de validade (shelf life) limite para o recebimento de uma mercadoria. E esse controle precisa ser ainda mais criterioso nos itens C, já que têm menor saída. Desse modo, podemos dizer que utilizar a Curva ABC auxilia no gerenciamento da vida útil de cada produto.
Negociação com fornecedores
É óbvio que a empresa ganharia mais dinheiro negociando com fornecedores da categoria classe A, uma vez que 70% – 80% do dinheiro é gasto com eles. E com a Curva ABC fica mais fácil fazer essas negociações, pois o gestor sabe exatamente quais produtos merecem a sua atenção. Além da negociação relacionada ao preço dos itens, podem ser discutidos outros benefícios como prestação de serviços pós-compra, redução de adiantamentos, frete grátis etc.
Estoque em sintonia com a demanda
A otimização do estoque é um benefício popular da Curva ABC, pois permite que os planejadores de estoque organizem itens de alta prioridade, alinhados às necessidades do cliente. É possível identificar quais itens têm mais saída e quais tem menos, permitindo, assim, que se faça compras no momento certo, na hora certa e na quantidade certa. Desse modo, os clientes sempre serão atendidos em suas demandas.
Preços estratégicos
A Análise ABC ajuda a definir os preços de maneira muito estratégica para produtos que agregam mais valor à empresa. Deve-se monitorar os produtos que são altamente desejáveis para os clientes e que têm uma demanda crescente. Com base nesses dados, a empresa pode fazer reajustes no preço desses itens, o que causará um grande impacto no lucro.
Outra opção estratégica de preço a considerar é a consolidação de fornecedores ou a transferência de negócios para um único fornecedor. A compra de mais produtos de um único fornecedor reduzirá os custos de transporte e os seus custos associados.
Logística otimizada
Quando é utilizada a Curva ABC, a operação torna-se mais organizada e eficiente, onde os produtos de maior valor / maior giro são posicionados em endereços privilegiados, facilitando assim o picking, reduzindo as movimentações e acelerando o processamento e expedição de pedidos.
Erros comuns ao usar a Curva ABC
Conforme destacado no tópico anterior, a Curva ABC ajuda as empresas otimização do seu capital de giro, na redução dos custos de manutenção, na gestão do estoque e do seu reabastecimento, dentre outros ganhos. Contudo, para que esses benefícios sejam alcançados, é preciso considerar também as situações que exigem um tratamento especial e cuidados que precisam ser tomados, tais como:
Compras de oportunidade
Se um fornecedor te oferece um preço promocional para adquirir determinada quantidade de itens ou se há um aumento do preço previsto, é natural que se opte por comprar em quantidades maiores pensando em uma lucratividade futura. Entretanto, é importante considerar questões como o tempo médio de venda e o montante do capital de giro que será empregado nessa compra.
Validade, novidade e sazonalidade
Ao adquirir um item que tem validade, é fundamental considerar seu o tempo média de saída para determinar o prazo limite que será recebido. Produtos que são atualizados com frequência (ex: celulares) também precisam de zelo na hora da compra para que não fiquem se tornem itens obsoletos no estoque. E os produtos sazonais precisam ser avaliados individualmente para que sejam adquiridos no momento e quantidade ideais.
Revisão frequente da Curva ABC
Quando você não tem uma rotina de revisão da Curva ABC do seu estoque, a gestão de determinados produtos pode se tornar deficitária, uma vez que é comum acontecerem mudanças no preço ou na quantidade de itens vendidos, por exemplo. Isso pode demandar mudanças na classificação. Nesse sentido, revisar frequentemente a curva é uma forma de garantir que o estoque esteja sempre organizado e otimizado e de gerir bem os seus recursos, evitando o gasto com itens que não são mais representativos ao seu negócio.
Avalie seu negócio hoje
As dicas apresentadas neste texto foram importantes para você repensar a forma como está gerindo o seu estoque? Aproveite para rever as suas estratégias de classificação dos produtos e de organização do seu armazém e lembre-se: com as ferramentas certas você poderá reduzir seus custos e manter alta produtividade na sua operação.
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