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felipe_trigueiroA logística vem passando por grandes mudanças, acompanhando a evolução do mercado digital e o novo comportamento do consumidor. Com a pandemia, as transformações se intensificaram e o que vimos foi uma adaptação muito rápida de grandes players, os quais vêm influenciando as demais empresas na busca por alta performance e pela oferta de um serviço inigualável aos clientes. Novas tecnologias surgem e são testadas no âmbito da logística, hubs urbanos se espalham, o ESG ganha força, o compartilhamento de operações revela-se como uma opção viável para a redução de custos, a gestão de pessoas mostra sua importância em vários aspectos, dentre outras tendências que já estão em curso.

 

E é sobre todos esses assuntos que conversamos com o especialista em  Logística e Supply Chain, Felipe Trigueiro. Felipe é  CEO da FTLOG Soluções em Logística e Sócio Diretor da Império Móveis e Eletro.

 

Confira a entrevista:

 

 

Delage: Quais os aprendizados dos últimos dois anos, marcados pelas transformações no mercado e na logística desencadeadas pela pandemia, devem ser levados para 2022?

 

Felipe Trigueiro: Os aprendizados trazidos pela pandemia podem ser divididos em dois pontos essenciais:

 

  1. Pessoas: como seres humanos, o senso de coletividade cresceu e a busca por redução de desperdícios aumentou. Essas mudanças influenciam o comportamento como consumidores, que passam a exigir mais que as empresas passem a ser socialmente e ambientalmente mais responsáveis.

 

  1. Empresas: a busca por atender o mercado consumidor através do mundo digital, impulsionou a transformação digital das empresas mesmo que ainda de forma embrionária. Estas passaram a entender que o mundo digital é um caminho sem volta, e que todas as ações precisam estar atentas e centradas no cliente (Customer Centricity).

 

Por isso, o uso do WMS e DMS passam a fazer parte dos projetos prioritários para as empresas. O WMS para garantir a acurácia dos estoques e possibilitar aumentar as vendas pela maior disponibilidade de itens, e o DMS para aproximar o cliente sobre o status de sua entrega, garantindo confiabilidade, transparência e cumprimento de prazo.

 

 

D.: Hoje há uma concorrência acirrada no mercado, especialmente na venda digital. Grandes players vêm se destacando pelas entregas ágeis e personalização do atendimento. Como, então, se destacar dos competidores, conquistando e mantendo clientes?

 

F.T.: A corrida pelo mercado digital traz algumas armadilhas. Entender a jornada do cliente é uma condição que não pode ser negligenciada pelas empresas. Adotar tecnologias por modismos pode criar uma distância ainda maior do seu mercado. O conceito de omnichannel é muito importante. Mas além de ter multicanais de vendas, as empresas precisam estar aptas para ter multicanais para resolução de problemas, trocas e devoluções. Muitas empresas focam apenas na venda e na entrega, e o alto custo para resolver pequenos problemas, trocas ou devoluções passa a ser a grande dor de cabeça.

 

Diante disso, para se destacar, as empresas precisam promover soluções que facilitem toda a experiência do consumidor – soluções tecnológicas e humanas para tornar a experiência 100% confiável e aprovada, possibilitando, dessa forma, uma potencial volta ou recorrência de venda.

 

 

D.:  Você acredita que as empresas que não modernizarem seus processos e implantarem tecnologias que reduzem erros, tarefas repetitivas e retrabalhos podem ficar à margem nessa corrida?

 

F.T.: As empresas que não investirem em processos, pessoas e tecnologias virão cada vez mais os seus faturamentos reduzirem. Por isso, é muito importante não medir esforços para terem processos estruturados, pessoas qualificadas e tecnologia para ajudar o processo de melhoria da eficiência empresarial. Os números de improdutividade, perdas e outras ineficiências dos processos podem consumir todo o lucro de uma empresa. Da mesma forma, quanto mais eficiente ela é, o aumento do lucro é diretamente proporcional.

 

 

D.: Quais tecnologias para a logística você vê como promissoras em 2022?

 

F.T.: Apesar dos avanços tecnológicos para o uso de drones e carros elétricos, as tecnologias de base continuarão puxando as atividades de implantação na Logística. WMS, DMS e TMS continuarão a fazer parte das principais ações de implantação no ano de 2022 para garantir a acurácia dos estoques e aproximar o cliente do processo do negócio. Redução de perdas e retrabalhos são premissas viabilizadoras da implantação dessas tecnologias, contudo, a revisão de processos pensando no cliente e nos controles também são fundamentais.

 

 

D.: Em relação aos novos formatos logísticos em ascensão, como as dark stores e micro-fulfillment centers, você acredita que eles ganharão ainda mais força em 2022?

 

F.T.: Sim. A busca por personalização e respostas rápidas vem sendo uma grande estratégia de sucesso em muitos segmentos. O crescente uso de dark stores e micro-fulfillmente vem influenciando e impulsionando o sucesso de diversas empresas e até influenciando o valor dos imóveis em pontos estratégicos de implantação. Com certeza estarão entre as estratégias mais implantadas em 2022.

 

 

D.: Uma pesquisa divulgada no início deste ano pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) revelou uma queda significativa na intenção de consumo das famílias, que atingiu o valor de 71,6 em um teto de 200 pontos. Isso decorre da inflação, altos juros e queda no poder de compra. Além de todos esses fatores, temos visto um aumento nos custos de transporte. Como, então, as empresas podem reduzir seus custos logísticos para que tenham condições de oferecerem preços mais competitivos?

 

F.T.: A redução ou adequação de custos podem ser obtidas através de alguns pontos:

 

  1. Avaliação do processo de atendimento de pedido de cliente: entender como a jornada da empresa pode ser otimizada para atender o cliente da forma certa e ao menor custo;
  2. Compartilhamento de operações (uso de operadores logísticos): para compartilhar custos e melhorar a eficiência dos processos;
  3. Uso do marketplace para impulsionar as vendas através de novos canais;
  4. Adoção de tecnologias para garantir a performance de execução dos processos e atividades chaves.

 

Esses quatro pontos precisam estar na rotina de gestão das empresas. No entanto, a grande dificuldade em executar as rotinas força as empresas a fazerem corte de custos em ações erradas, como, por exemplo, redução de quadro e pessoas, tornando ainda mais difícil a retomada dos negócios.

 

Quando falamos de transportes, temos que observar a quantidade de horas que os veículos ficam parados e a não utilização de sua capacidade de carga (cubagem e peso), além da alta quilometragem percorrida por falta de roteirização e planejamento de rota.

 

 

D.: Um assunto que tem ganhado grande destaque na atualidade é a sustentabilidade empresarial.  Você vê esse tema como uma tendência para 2022? Como as empresas podem adequar a sua logística de modo que se tornem mais sustentáveis?

 

Com a disseminação do conceito de ESG (em inglês), do Triple Botom Line (Tripê da Sustentabilidade) e da exigência dos clientes por empresas socialmente e ecologicamente corretas, as organizações se veem cada vez mais pressionadas a buscarem as melhores práticas na Gestão Ambiental, Social e de Governança.

 

Quanto às questões ambientais, as empresas buscam a melhoria da performance em toda a cadeia logística, desde a redução de emissão de gases poluentes liberados na atmosfera por meio do uso eficiente da frota, passando pela manutenção da frota, até a adoção de carros elétricos. A simplificação da logística passa, por exemplo, pelo uso de soluções de roteirização que diminuem o tempo do caminhão em circulação. Além disso, a frota requer maior atenção, observando a idade, manutenção e eficiência energética dos caminhões. A consolidação de carga também é importante, pois gera uma menor necessidade de circulação de veículos.

 

Em relação ao aspecto social, as empresas investem na ampliação da diversidade, dando mais oportunidades de promoção a talentos de todas as origens e perfis. É igualmente importante direcionar as atenções para o bem-estar dos funcionários, o que inclui temas como conforto e segurança do ambiente de trabalho (seja no escritório, na operação ou em casa), benefícios, e mecanismos adequados de comunicação com a liderança da empresa. Temas como nível de satisfação dos funcionários (via levantamento de NPS) e acompanhamento de indicadores de turnover e absenteísmo devem fazer parte da rotina das lideranças de RH.

 

É muito importante ainda criar mecanismos e direcionar a cultura para práticas ESG. Por isso, as métricas de governança são tão essenciais. As companhias devem se preocupar em combater a corrupção e priorizar a ética no desenvolvimento das atividades. É absolutamente necessário operar formalmente com aderência a todas as exigências governamentais e fiscais.

 

 

D.:  Os especialistas têm reforçado que o foco das empresas precisa estar no atendimento. Para que as expectativas do cliente sejam cumpridas, há uma série de fatores, e um crucial é o engajamento das equipes de trabalho. No âmbito da logística, quais práticas podem ser executadas para engajar os recursos humanos?

 

F.T.: A busca pelo engajamento passa pelo processo de Gestão e Liderança. O maior desafio para as empresas é ter líderes prontos, ou seja, preparados para desenvolverem novos líderes e cuidar das pessoas. Quando as equipes de trabalho possuem líderes preparados e se sentem cuidados por ele e pela empresa, o engajamento acontece feito mágica.

 

Para isso acontecer na prática, a empresa e o seu time de liderança precisam estar alinhados. É importante entender o negócio, conhecer o cliente e conhecer a equipe, assim como promover o entendimento do quanto a logística influência na experiência do cliente, de como cada colaborador influencia o nível de serviço prestado e, assim, tirar de cada ocorrência uma lição a ser aprendida.

 

Dessa forma, não só o engajamento acontece, como também há uma transformação na empresa, permitindo-a trilhar o caminho da excelência.

 

 

D.: Qual mensagem você deixaria aos gestores de logística para que sejam bem-sucedidos em seus projetos neste ano de 2022?

 

Cuidar das pessoas com interesse genuíno pode transformar um mundo. Por isso, os gestores precisam entender o seu real papel.

 

 

* A equipe Delage agradece ao Felipe por nos conceder esta entrevista e por dividir conosco sua experiência e conhecimento. 

 

 

Para saber mais sobre as tendências da logística, acesse o Whitepaper elaborado por Felipe em parceria com a Delage.