Em abril deste ano, a Sephora, empresa mundial de cosméticos, enfrentou um grande desafio nos Estados Unidos: manter o seu tradicional evento de vendas (Sephora Spring Sale) mesmo com as lojas físicas fechadas. Diante da grande expectativa dos clientes leais quanto à promoção que acontece todos os anos na primavera, foi preciso readaptar toda a estrutura logística para garantir que as vendas acontecessem em ambiente on-line e com um excelente padrão de entrega.
Para muitos varejistas, preparar a cadeia de suprimentos para um período onde há maior demanda via internet requer meses e meses de preparação, mas a Sephora não teve esse tempo para se preparar. Com a pandemia, a adaptação precisou acontecer de forma rápida e eficiente. E tudo só foi possível porque a empresa já tinha uma visão voltada para o futuro. Depois do evento, a Sephora celebrou seus resultados e, para o VP sênior de Supply Chain da varejista, Mike Racer, a promoção de abril mostrou que a empresa está mais preparada para o que ele chama de “explosão on-line”.
Durante a cúpula virtual da Reuters ‘Retail Supply Chain’, Racer comentou: “Não foi perfeito, admito”, indicando que a Sephora não estava imune às muitas forças que provocaram o atraso das entregas durante a pandemia. “Mas certamente conseguimos atender à necessidade do negócio de uma forma que o cliente apreciou. E o melhor: ganhamos market share como resultado.”
Rendimento do armazém acima da capacidade
Além das questões relacionadas aos locais de armazenamento, posicionamento de estoque e automação, Racer lembrou que um enigma comum para o gerenciamento de operações logísticas é eficiência versus capacidade. “Como você equilibra a eficiência de um sistema com a destreza certa para obter muitos resultados por meio dele?”, perguntou Racer.
A promoção anual de primavera da Sephora levou Racer a melhorar o rendimento dos armazéns da empresa como medida preventiva – e isso anos antes da pandemia. Desse modo, a Sephora já tinha uma estrutura preparada para os períodos de estresse esperado e inesperado.
De acordo com o portal Supply Chain Dive, o CFO da LVMH (Grupo da qual a Sephora faz parte), Jean-Jacques Guiony, disse em uma teleconferência que a prontidão da Sephora para a mudança de canal ocorrida em razão da pandemia ofereceu uma justificativa para os investimentos que a empresa fez até agora.
Planejando o estoque de acordo com a previsão – não com o orçamento
O sucesso da Sephora com o boom de vendas on-line não se deve somente ao preparo para o evento promocional ou à sorte. A empresa vem fazendo investimentos há muitos anos, buscando uma evolução constante da sua estrutura logística. Desde que assumiu o seu cargo, em 2011, 12 anos após o site da empresa ser lançado, Mike Racer elencou três áreas para investimento prioritário: design de rede, gerenciamento de estoque e o que ele chama de “a seat at the table”.
Uma rede de armazéns bem projetada ajuda o varejista a manter a velocidade de entrega, mesmo quando as transportadoras apresentam problemas, como várias fizeram durante o pico da pandemia. A Sephora tem cinco armazéns nos EUA, distribuídos de forma estratégica para que quase todos os lugares do país recebam seus pedidos em até dois dias (em condições normais de envio).
Conforme destaca o portal Supply Chain Dive, nesses armazéns, Racer e sua equipe criaram flexibilidade para mover o produto para os canais onde seria mais produtivo. “Desenvolvemos ferramentas e sistemas que nos permitem mover códigos postais rapidamente. Nós conseguimos movimentar o estoque entre as instalações do varejo e do e-commerce porque desde o início decidimos que queríamos misturá-las”, disse Racer.
E cada vez mais a automação está fazendo parte do atendimento a pedidos realizado pela empresa. “Provamos que o retorno é muito grande. Nossa capacidade de separar os itens, rapidamente e com precisão foi uma virada de jogo para nós nessas duas arenas. Agora ainda temos instalações manuais, não me interpretem mal. Mas, estamos contando cada vez menos com eles à medida que construímos [instalações] novas e mais automatizadas “, disse Racer.
De acordo com o VP de Supply Chain da Sephora, otimizar o estoque para o e-commerce requereu mais esforços quanto à mudança cultural do que em relação às inovações tecnológicas. Conforme destacou Racer, foi preciso fazer uma transformação na cultura na empresa, na medida em que o orçamento de estoque estava previsto para um crescimento de 10%, e a pandemia trouxe um aumento de 20 a 30%.
“Alinhar o estoque com as previsões de vendas levou a uma mentalidade mais voltada para o futuro”, disse ele. Para Racer, hoje a empresa tem apresentado uma gestão de estoque que é referência na indústria americana porque eles estão sempre olhando para frente.
Fonte: Supply Chain Dive.
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