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A pandemia da Covid-19 está reconfigurando os negócios. Diversos países já estão em lockdown há quase um mês e as cenas mais comuns são ruas vazias e boa parte do comércio e prestadores de serviço fechados. Mas há um setor que tem trabalhado muito, talvez até mais do que antes. É o varejo de bens essenciais, como o de alimentos e medicamentos, que vem intensificando esforços para garantir a saúde e o bem-estar da população.

 

Para cumprir essa missão, suas operações logísticas estão a todo vapor, enfrentando uma série de desafios para conseguir que os esses itens cheguem até os supermercados, farmácias ou às casas dos clientes. Como forma de reduzir as dificuldades, os líderes dessas empresas têm priorizado a transparência, o diálogo, a análise conjunta e a oferta de respostas rápidas.

 

Por outro lado, o varejo de bens não essenciais busca manter suas atividades intensificando as operações no e-commerce. Para fomentar as vendas, muitas dessas empresas têm oferecido benefícios exclusivos, como frete gratuito ou descontos nas compras. A verdade é que cada uma, a seu modo, está buscando se readaptar ao novo cenário, desenvolvendo estratégias específicas para driblar as dificuldades e manter o negócio ativo.

 

A McKinsey & Company, líder mundial no mercado de consultoria empresarial, tem publicado diversas análises e artigos sobre os impactos da crise, as reações imediatas das empresas e como elas devem agir. No que tange à resposta mediante às transformações que estão ocorrendo, a empresa defende que as companhias precisam pensar e agir de acordo com cinco horizontes:

 

1) Determinação

 

Enfrentar o desafio que a Covid-19 representa para a força de trabalho, clientes e parceiros.

 

2) Resiliência

 

Abordar desafios da gestão de novos prazos e questões mais amplas de resiliência.

 

3) Retorno

 

Criar um plano detalhado para retornar rapidamente os negócios à escala.

 

4) Reconstrução

 

Reimaginar o “próximo normal”: entender como as mudanças podem trazer impactos permanentes e como as empresas devem se reinventar.

 

5) Reforma

 

Ser claro sobre como o ambiente em seu setor (regulações, papel da gestão) poderia evoluir.

 

 

Para a McKinsey & Company, o mais importante é estabelecer um comitê de crise. Ao reunir a alta gerência em uma estrutura única e flexível, a empresa tem mais condições de enfrentar as situações adversas, guiando todos a entenderem, reagirem e melhorarem em tempo hábil.

 

Ainda de acordo com a McKinsey & Company, na cadeia de suprimentos, o comitê de crise deve cobrir várias prioridades, desde a realização de planejamento de vendas e operações com base em cenários, até a disponibilidade de produtos e a qualificação de fornecedores. Em todas essas atividades, o comitê atua como uma fonte de informação única e autorizada, ponto de contato e local de tomada de decisão.

 

O comitê de crise poderá também romper certos limites entre as funções. Por exemplo, pode reunir os líderes da Logística e Compras para identificar os contratos de transporte mais urgentes que exigem renegociação, a fim de garantir rotas alternativas de transporte. E pode resolver questões sobre quais locais de fabricação devem ser reativados primeiro – e em que grau – tendo em mente as restrições de fornecimento. Em suma, pode-se dizer que a função primordial do comitê é garantir que todos os impasses sejam resolvidos.

 

Vale acrescentar que as informações reunidas pelo comitê de crise serão cruciais para analisar o cenário, de modo que se enfrente a crise com prioridades claras.

 

Ações para o varejo

 

A McKinsey & Company apresentou também as principais alterações ou desafios específicos para a cadeia de suprimentos do varejo neste momento de crise. São elas:

 

1) Relação com fornecedores

 

Devido à crescente demanda por bens essenciais, os varejistas estão enfrentando escassez na rede. Para combater isso, eles têm trabalhado em estreita colaboração com seus fornecedores.

 

Para os produtos mais importantes, estão sendo realizadas reuniões diárias com fornecedores estratégicos, de modo a trabalhar com as opções para garantir um suprimento adequado de itens essenciais de alta demanda. Essa é a primeira e principal prioridade para as empresas das categorias de alimentos e medicamentos que precisam garantir um suprimento rápido e confiável.]

 

Ações tomadas:

 

– Simplificar perfis de SKU para reduzir a variedade e aumentar as quantidades;
– Negociar as condições de pagamento para os principais fornecedores;
– Ampliar prazos de entrega junto aos fornecedores;
– “Afrouxamento” quanto ao OTIF (On Time In Full).

 

2) Operações de merchandising

 

Com os varejistas estão tendo que “recalibrar” seus pedidos para atender a nova demanda dos clientes, eles também precisarão fazer a mudança nas operações de compras, planejamento e gerenciamento de estoque. Para isso, é importante que algumas ações sejam tomadas:

 

– Revisar planos de compras que favorecem itens de alta demanda;
– Direcionar estoques para locais onde as vendas estão ativas;
– Substituir algoritmos de reposição e alocação de estoque, considerando as novas demandas.

 

No caso do varejo de bens não essenciais, recomendam-se as seguintes ações:

 

– Reduzir as compras de longo prazo para reservar dinheiro;
– Antecipar futuras altas nas vendas e ajuste nos planos de compra.

 

3) Distribuição

 

Para a McKinsey & Company, essa parte da cadeia de suprimentos é onde as tendências de demanda por bens essenciais e não essenciais começam a se sobrepor significativamente. Dentre as ações sugeridas para o cenário atual estão:

 

– Readmitir ou realocar funcionários para aumentar a capacidade;
– Oferecer treinamento ao pessoal de loja e de back-office para auxiliar no comércio eletrônico;
– Movimentar temporariamente os escritórios para os centros de distribuição;
-Implementar mudanças significativas na rotina para manter a saúde e a segurança dos trabalhadores, além de melhorar a retenção e reduzir a rotatividade.

 

 

4) Logística

 

Conforme ressalta a McKinsey & Company, mais do que nunca, é essencial manter a flexibilidade dentro da logística. Para isso, é importante:

 

– Alocar maior capacidade de transporte para os itens de alta demanda;
– Ter fornecedores que façam entregas diretamente nas lojas;
– Estocar produtos em lojas situadas em pontos estratégicos para abastecer as lojas menores.

 

No caso do varejo de bens não essenciais, são recomendadas as seguintes ações:

 

– Explorar opções alternativas e suplementares de delivery;
– Oferecer transporte se houver frota privada disponível para apoiar a movimentação de mercadorias críticas.

 

 

5) Atendimento de pedidos

 

Neste momento de confinamento, as empresas de bens essenciais (como alimentos e medicamentos) têm visto um aumento notável das compras online e pedidos de delivery dessas mercadorias. Diante desse cenário, McKinsey & Company sugere:

 

– “Afrouxar” a exigência de entrega no dia seguinte;
– Otimizar rotas e ajustar mais horários de entrega;
– Atender o máximo de pedidos possível.

 

Já para o varejo de bens não-essenciais, é recomendado:

 

– Expandir as opções de entrega e devolução para dar mais flexibilidade aos clientes.

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Ações recomendadas a médio prazo

 

Uma orientação da McKinsey & Company para as empresas de um modo geral – e que também se aplica ao varejo – é que, com a crise se apaziguando, elas convertam o seu comitê de crise em um processo de gerenciamento de riscos a médio prazo. A recomendação é: “converta o combate a incêndios diariamente em uma gestão confiável de riscos”.

 

A ideia é transformar a formação temporária do comitê de crise em um processo mais formal de gerenciamento de riscos. De acordo com a McKinsey & Company, as empresas “podem usar o conhecimento e as lições aprendidas de suas ações de curto prazo para formar a base para a construção de uma logística mais resiliente”.

 

Para tanto, o ideal é criar uma equipe fixa de gerenciamento de riscos, a qual será responsável por avaliar as ameaças às cadeia de suprimentos, através da coleta de informações claras. Também deve haver interface regular com outras funções, incluindo Vendas e Marketing, Financeiro, RH, P&D e TI, para garantir e incentivar uma alta conscientização acerca da importância e das implicações do gerenciamento adequado dos riscos.

 

 

Preparação para o futuro

 

Quanto as ações à longo prazo, a McKinsey & Company defende que as empresas precisam ter tanto a equipe de gerenciamento de riscos quanto aprimorar o planejamento logístico.

 

O gerenciamento de riscos começa com uma análise aprofundada da produção, buscando reduzir custos e riscos e (quando possível) alcançar benefícios comerciais. Para a McKinsey & Company, é fundamental que as empresas revisem seus históricos e façam simulações de possíveis cenários para lidar com as incertezas do futuro e se adaptarem a um ambiente de crise de maneira ágil.

 

Depois que os riscos são identificados, medidos e classificados, as empresas podem considerar as opções de salvaguarda e de mitigação, como adquirir ferramentas extras ou negociar opções de compra com os principais fornecedores. A aplicação cuidadosa dessas análises avançadas também pode ajudar as empresas a identificar fornecedores qualificados e as redes de transporte para mover os suprimentos mais rapidamente.

 

Ainda de acordo com a McKinsey & Company, o aumento da agilidade no planejamento da cadeia de suprimentos, usando ferramentas digitais, permite o replanejamento rápido da logística de ponta a ponta. Para a companhia, as novas tecnologias desempenham um papel crítico, permitindo a visibilidade em tempo real da operação logística garantindo, assim, decisões mais rápidas e melhores. E mais: “os primeiros a adotarem inovações estão tornando a sua cadeia de suprimentos mais resiliente”.

 

Por fim, a McKinsey & Company salienta que, embora a Covid-19 seja uma crise de amplo alcance, ela não é um incidente isolado. Outras ocorrências, como as disputas comerciais internacionais ou desastres naturais, por exemplo, afetam as complexas cadeias de suprimentos atuais em vários graus. Desse modo, é essencial que as empresas ajam agora para mitigar os riscos futuros.